DOCUMENTÁRIO "SOCIEDADE DO AUTOMÓVEL"

sexta-feira, 29 de agosto de 2008 Karine Winter


São 11 milhões de pessoas, quase 6 milhões de automóveis; um acidente a cada 3 minutos; uma pessoa morta a cada 6 horas; 8 vítimas fatais da poluição por dia. No lugar da praça, o shopping-center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar do parque, o estacionamento; em vez de vozes, motores e buzinas. Trabalhar para dirigir, dirigir para trabalhar: compre um carro, liberte-se do transporte público ruim. Aquilo que é público é de ninguém, ou daqueles que não podem pagar. Vidros escuros e fechados evitam o contato humano. Tédio, raiva angústia e solidão na cidade que não pode parar, mas não consegue sair do lugar. Trabalhar para dirigir, dirigir para trabalhar: Compre um carro, liberte-se do transporte público ruim. O que é público é de ninguém (ou daqueles que não podem pagar). O documentário apresenta cenas de uma cidade degradada pelo planejamento urbano equivocado, pela devoção ao automóvel e pelo uso irracional do transporte particular. Usuários de diferentes tipos de meios de transporte, relatam os caminhos que percorrem diariamente na cidade de São Paulo. Um vídeo de Branca Nunes e Thiago Benicchio. As discussões levantadas a partir dessas vivências permitem reflexões sobre a necessidade da adoção de atitudes e da construção de hábitos bem diferentes dos que temos hoje. Sugestão de assuntos a serem discutidos:


·Mensagens publicitárias que induzem ao culto do carro;
·Falsa sensação de proteção sentida pelas pessoas ao estarem dentro de um veículo;
·A sensação de ter o carro como extensão do seu próprio corpo ou de sua própria casa;
·Motoristas que acabam prisioneiros dentro do seu próprio carro;
·A indústria que é movimentada através do comércio de veículos;
·A escala social que acaba sendo definida em função do tipo de automóvel que a pessoa possui;
·Os danos ocasionados à saúde e ao meio-ambiente, provocados pela excessiva emissão de gases poluentes;
·A cultura do ter que se sobrepõe a cultura do ser;
·A falta de apoio da mídia em campanhas educativas que tenham como objetivo a diminuição do número de veículos em circulação;
·O incentivo à carona solidária;
·A falta de políticas públicas que apóiem efetivamente os transportes públicos e coletivos de qualidade.

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PARA BAIXAR O DOCUMENTÁRIO ACESSE:

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A GUERRA DO TRÂNSITO

Karine Winter


Quase todo mundo conhece a expressão que diz que "enfrentamos uma batalha por dia" na vida. Pois bem: hoje, ela deixou de ser simbólica e passou a ter significado assustadoramente real. Enfrentamos não uma, mas várias batalhas nessa guerra em que se transformou o trânsito. E isso diz respeito a todos os que frequentam as ruas das cidades: motoristas e pedestres. Nas últimas semanas, acompanhamos várias notícias de acidentes de trânsito que mostraram o nível a que chegou essa guerra. É um festival de incivilidade: transgressões de normas de direção são a regra agora. Motorista que usa celular ao dirigir, ingere álcool antes de usar o carro ou desrespeita acintosamente a sinalização, direção perigosa e violência descontrolada são exemplos. É um deus-nos-acuda. 

Além disso, as cidades estão cada vez mais congestionadas, não apenas pelo excesso de veículos, mas também porque o ideal de consumo nos faz comprar veículos cada vez maiores. Quando vejo um desses modelos esportivos com tração nas quatro rodas, imensos, ou carros possantes, com todo tipo de recurso, penso que os veículos deixaram de ter sua função original, que é a de transportar uma pessoa de um lugar a outro, e passaram a ser objetos de desejo. E aí não há racionalidade alguma na aquisição. 

A União Européia, atenta a essas questões, pretende restringir as propagandas de carros. Quer banir referências à rapidez do veículo ou ao "prazer de dirigir" que ele proporciona e propõe a presença de informações como o consumo de gasolina e o volume de dióxido de carbono produzido. Essa confusão no trânsito prejudica todos os que usam o espaço público e, principalmente, os mais novos. 

Os jovens são diretamente atingidos por esses conceitos sobre o significado de dirigir. O número de acidentes provocados e sofridos por eles porque dirigem alcoolizados é assustador. E testemunhamos essas tragédias regulares com impotência. Mas as crianças talvez sejam as maiores vítimas desse trânsito caótico. Segundo dados do Ministério da Saúde, ele é a maior causa de morte de crianças com até 12 anos, e estudos realizados pela ONG Criança Segura apontam que grande parte dos acidentes que envolvem crianças ocorre perto de casa e na volta da escola. 

E, por falar em escola, os pais que cometem infrações nos arredores da escola talvez não percebam o quanto contribuem para a insegurança do próprio filho. Vale lembrar ainda o transporte escolar: já vi peruas escolares cometendo irregularidades bem sérias. Não é à toa que o Conselho Nacional de Trânsito definiu como tema da Semana Nacional de Trânsito de 2008 "A criança e o trânsito". 

E nós, adultos que dirigimos, pais e educadores profissionais: que ações podemos tomar para que o trânsito deixe de ser um espaço de barbárie e se torne mais seguro para crianças e jovens?
Autoria do texto: Rosely Sayão (Psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?")